Campinas
Febre maculosa: RMC terá comitê de combate à doença após 4 mortes por infecção em festa com 3,5 mil pessoas

Quatro pessoas que estiveram no evento em Campinas morreram com a doença. Há ainda dez casos suspeitos em todo o estado
A Região Metropolitana de Campinas (RMC) terá um comitê de enfrentamento à febre maculosa, após a cidade registrar um surto da doença na Fazenda Santa Margarida, no distrito de Joaquim Egídio. Quatro pessoas, que estiveram em uma festa com 3,5 mil pessoas no local no fim do mês passado, morreram pela infecção. Há, ainda, outros dez casos suspeitos em todo o estado de pessoas que estiveram em eventos no local.
A criação do comitê foi definida em uma reunião do Conselho da RMC na manhã desta sexta-feira, 16, com os prefeitos das 20 cidades. A ideia é trabalhar ações conjuntas entre os municípios, considerando que toda a região de Campinas é endêmica para febre maculosa.
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As medidas de combate à doença serão as mesmas definidas pela Prefeitura de Campinas após a confirmação do surto na fazenda. Profissionais de saúde da rede pública e privada receberão orientações para fazer o diagnóstico precoce da febre maculosa e iniciar o tratamento. Além disso, a comunicação em locais de risco será intensificada com a colocação de placas de aviso.
As quatro pessoas que estiveram na Feijoada do Rosa, um tradicional evento de Campinas, e morreram depois de terem contraído febre maculosa são:
a professora Evelyn Santos, de 28 anos;
a dentista Mariana Giordano, de 36 anos;
o namorado da dentista, o empresário e piloto de Fórmula C300 Douglas Costa, de 42 anos;
a estudante Erissa Nicole Santana, de 16 anos, que esteve na festa para acompanhar o trabalho do pai.
Campinas contabiliza, ainda, dois casos suspeitos de pessoas que estão internadas. Uma mulher de 38 anos, que esteve na Fazenda Santa Margarida para um show do cantor Seu Jorge, no dia 3 de junho, e a modelo Rosangela Davelli, de 40 anos, que também foi à Feijoada do Rosa e está internada no Hospital Vera Cruz. Ela disse que só procurou ajuda após amigos alertarem sobre o surto e teve muito medo de morrer. Leia o relato dela.
Nas outras cidades do estado, há dois casos suspeitos em Jundiaí, dois em Itupeva e quatro em Santa Isabel, sendo que duas pessoas estão internadas.
O que é a febre maculosa? Segundo o Ministério da Saúde, “a febre maculosa é uma doença infecciosa, febril aguda e de gravidade variável”, ou seja: há formas leves e formas graves, “com elevada taxa de letalidade”. Os sintomas podem ser facilmente confundidos com os de outras doenças que causam febre alta.
O que causa a doença? A doença é causada, no Brasil, por duas bactérias do gênero Rickettsia, e a transmissão ocorre por picada de carrapato. A Rickettsia rickettsii causa a versão grave e é encontrada no norte do Paraná e no Sudeste. A Rickettsia parkeri leva a quadros menos severos e é encontrada em áreas da Mata Atlântica no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, na Bahia e no Ceará.
Quais carrapatos transmitem? No país, são os carrapatos do gênero Amblyomma, principalmente aquele conhecido como carrapato estrela. Mas o ministério alerta que qualquer espécie pode transmitir a febre maculosa, inclusive o carrapato do cachorro.
Dá para transmitir de pessoa para pessoa? Não. A transmissão por contato humano é impossível.
Quais são os principais sintomas? Febre; dor de cabeça intensa; náuseas e vômitos; diarreia e dor abdominal; dor muscular frequente; inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e sola dos pés; gangrena nos dedos e orelhas; e paralisia dos membros que começa nas pernas e vai subindo até os pulmões, causando problemas respiratórios.
Mas e as manchas? O Ministério da Saúde alerta que, com a evolução do quadro, “é comum o aparecimento de manchas vermelhas nos pulsos e tornozelos, que não coçam, mas que podem aumentar em direção às palmas das mãos, braços ou solas dos pés”.
Tem tratamento? Sim, com um antibiótico específico. O paciente deve começar a tomar assim que o médico suspeitar da contaminação por febre maculosa, antes mesmo da confirmação do resultado do exame.
Campinas descartou proibir eventos em geral no município após o surto de febre maculosa em pessoas que estiveram na Fazenda Santa Margarida.
A metrópole é uma área endêmica para a infecção e tem mapeada pelo menos 12 áreas de risco, entre elas a região da Fazenda Santa Margarida.
Em vez de proibir eventos pela cidade, Campinas quer intensificar a comunicação de risco. Segundo o o Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa), é preciso que os organizadores garantam que todos os frequentadores sejam avisados que estão em uma área que pode ter incidência de febre maculosa.
“A gente não vai deixar de fazer eventos em Campinas inteira, senão teria que mudar Campinas geograficamente de local. Não tem como mudar a Amazônia de lugar, e lá tem malária. O importante é que locais com grande circulação de pessoas estejam preparados, fazendo, sim, manejo para diminuir chance de contágio, mas principalmente informando às pessoas os riscos”, explica Valéria Almeida, médica infectologista do Devisa. Fonte: g1
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Campinas
Operação de 20 GMs fiscaliza 84 estabelecimentos e apreende 500 kg de fios de cobre na RMC

Ação simultânea coordenada pelo Centro de Inteligência Metropolitano envolveu 275 agentes em toda a região
Uma operação integrada do CIM (Centro de Inteligência Metropolitano) apreendeu, nesta quarta-feira, 21, cerca de 500 kg de fios e cabos de cobre de origem suspeita nas 20 cidades da RMC (Região Metropolitana de Campinas). Foi a primeira ação do CIM, criado no dia 12 para unificar os núcleos de inteligência das Guardas Municipais dos municípios da região.
O foco da operação foi o combate à receptação de fios e cabos de origem ilícita. Foram fiscalizados, de forma simultânea, 84 estabelecimentos nas 20 cidades, resultando na apreensão de meia tonelada de fios e cabos de origem suspeita. Houve sete pessoas conduzidas aos distritos policiais, sendo duas com a prisão em flagrante já confirmada pela autoridade policial. Houve também apreensão de arma e drogas. Algumas cidades ainda estão com ocorrências sendo apresentadas no distrito policial. A operação envolveu a participação de 275 agentes.
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Somente em Campinas foram vistoriados 11 estabelecimentos, com apreensão de 229 quilos de fiação de cobre, dois suspeitos conduzidos à delegacia e um preso. Em Hortolândia, dois locais foram fiscalizados, com a apreensão de 103 quilos de fios, um suspeito conduzido ao DP e um preso. Em Indaiatuba, três locais foram fiscalizados, com 71kg de fios apreendidos. Em Jaguariúna, seis locais foram fiscalizados, com 31,4kg de fios apreendidos e duas pessoas conduzidas à delegacia.
A iniciativa teve como principal objetivo coibir o comércio ilegal de metais furtados e roubados — crimes que causam grandes prejuízos à infraestrutura urbana, como iluminação pública e telecomunicações, e que prejudicam a população.
O planejamento da operação foi conduzido pelos setores de inteligência dos municípios participantes, que realizaram levantamentos prévios para identificar os alvos da fiscalização. “Após as análise de dados, foram apontados os locais suspeitos e a partir daí cada cidade desencadeou sua operação para fiscalização nesses locais”, explicou o coordenador do CIM, Leandro Ferragutti.
Avaliação positiva
Para o presidente do Conselho de Desenvolvimento da RMC e prefeito de Campinas, Dário Saadi, a operação foi uma amostra do potencial do CIM para a região. “Eu acredito que melhorar a segurança pública da região tem que ser com integração, com troca de informações, com ações conjuntas. E nesta quarta-feira tivemos uma prova de que isso funciona”, afirmou.
O prefeito de Sumaré, Henrique do Paraíso, também aprovou a ação. “A união das Guardas Municipais da RMC marca seu início com uma operação estratégica para coibir o furto e a receptação de fios de cobre, demonstrando que a cooperação entre cidades é o caminho mais eficaz para proteger a população e combater o crime com inteligência”, disse.
“Nos fortalece essa ação conjunta no combate contra o roubo e a receptação de fios e cabos de cobre, pois atualmente é caso de grande prejuízo imediato à prestação dos serviços essenciais à população”, afirmou Ricardo Cortez, prefeito de Santo Antônio de Posse.
Sobre o CIM
O Centro de Inteligência Metropolitano foi inaugurado no dia 12 de maio pelo prefeito de Campinas e presidente do Conselho de Desenvolvimento da RMC, Dário Saadi. A proposta é fortalecer a cooperação entre os municípios, viabilizar o compartilhamento de dados estratégicos, definir ações integradas e realizar operações conjuntas de enfrentamento à criminalidade.
A coordenação do CIM está a cargo da cidade de Vinhedo, com Paulínia na vice-coordenação. A direção conta ainda com Campinas na 1ª secretaria, Santo Antônio de Posse na 2ª e Itatiba na 3ª.
Fazem parte da Região Metropolitana de Campinas os municípios de Americana, Artur Nogueira, Campinas, Cosmópolis, Engenheiro Coelho, Holambra, Hortolândia, Indaiatuba, Itatiba, Jaguariúna, Monte Mor, Morungaba, Nova Odessa, Paulínia, Pedreira, Santa Bárbara d’Oeste, Santo Antônio de Posse, Sumaré, Valinhos e Vinhedo.
Denúncias
A população pode colaborar com as ações de combate ao furto e à receptação de fios e cabos. Denúncias podem ser feitas diretamente às Guardas Municipais de cada cidade ou por meio do telefone 153.
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Campinas
CIM deflagra operação integrada contra furto de fios e cabos em cidades da RMC

Ação simultânea nas 20 cidades da RMC fiscaliza comércios de reciclagem para coibir crimes relacionados ao furto de cabos
O Centro de Inteligência Metropolitano (CIM) deflagrou, na manhã desta quarta-feira, 21, a primeira operação integrada com foco no combate à receptação de fios e cabos de origem ilícita. A ação mobilizou as Guardas Municipais das 20 cidades da Região Metropolitana de Campinas (RMC), com fiscalizações simultâneas em estabelecimentos que atuam na comercialização de materiais recicláveis.
A iniciativa teve como principal objetivo coibir o comércio ilegal de metais furtados — um tipo de crime que causa grandes prejuízos à infraestrutura urbana, como iluminação pública e telecomunicações, e que prejudica a população.
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O planejamento da operação foi conduzido pelos setores de inteligência dos municípios participantes, que realizaram levantamentos prévios para identificar os alvos da fiscalização.
Estão sendo fiscalizados estabelecimentos com suspeita de receptação e apreendidos fios e cabos que podem ser origem de furtos e roubos. Os suspeitos estão sendo levados para as delegacias das respectivas cidades para apresentação. Um balanço completo da ação será divulgado na parte da tarde.

Sobre o CIM
O Centro de Inteligência Metropolitano foi inaugurado no dia 12 de maio pelo prefeito de Campinas, Dário Saadi, atual presidente do Conselho de Desenvolvimento da RMC. O objetivo é articular os núcleos de inteligência das Guardas Municipais das 20 cidades da RMC para fortalecer a cooperação entre os municípios, viabilizar o compartilhamento de dados estratégicos, definir ações integradas e realizar operações conjuntas de enfrentamento à criminalidade.
A coordenação do CIM está a cargo da cidade de Vinhedo, com Paulínia na vice-coordenação. A direção conta ainda com Campinas na 1ª secretaria, Santo Antônio de Posse na 2ª e Itatiba na 3ª.
Fazem parte da Região Metropolitana de Campinas os municípios de Americana, Artur Nogueira, Campinas, Cosmópolis, Engenheiro Coelho, Holambra, Hortolândia, Indaiatuba, Itatiba, Jaguariúna, Monte Mor, Morungaba, Nova Odessa, Paulínia, Pedreira, Santa Bárbara d’Oeste, Santo Antônio de Posse, Sumaré, Valinhos e Vinhedo.
Denúncias
A população pode colaborar com as ações de combate ao furto e à receptação de fios e cabos. Denúncias podem ser feitas diretamente às Guardas Municipais de cada cidade ou por meio do telefone 153.
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Campinas
Entre prédios e patrimônios: a disputa silenciosa pelo centro histórico de Campinas

Especialistas apontam falta de gestão eficiente e pressão do mercado como causas para descaracterização de bairros históricos
- Por Coletivo Spotlight*
A transformação urbana acelerada de Campinas vem trazendo à tona um dilema que se repete em cidades de médio e grande porte pelo Brasil: como equilibrar o avanço do setor imobiliário com a preservação do patrimônio histórico?
A metrópole foi uma das primeiras a criar o próprio Conselho de Patrimônio Histórico com uma lei em 1987 e regulamentado no ano seguinte. No entanto, apesar de reunir 765 bens tombados e outros 600 processos de estudo, o tombamento não é suficiente para garantir a preservação.
Apenas nos últimos 11 anos, entre 2015 e 2025, um levantamento realizado com base no registro do IPTU de Campinas mostra que a cidade teve um acréscimo de 45 mil novos apartamentos e 12 mil casas. Qual o impacto deste crescimento no patrimônio? “Tem vários prédios sendo demolidos. Demolidos assim, eles são deteriorados com o tempo por falta de preservação”, comenta Jucinaide, campineira e que possui uma barraquinha na Feira Hippie do Bairro Cambuí há 15 anos.
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Para entender o panorama do impacto da valorização imobiliária sobre o tecido histórico-cultural da cidade conversamos com João Verde, arquiteto e conselheiro do Condepacc, e Fernando Shigueo Nakandakare, também arquiteto e estudioso da dinâmica urbana.
Cidade abandonada
A situação dos bens tombados e áreas históricas de Campinas é, para João Verde, “extremamente precária”. Segundo ele, não há apoio suficiente para que proprietários consigam realizar reformas ou restauros que lhes permitam reocupar os imóveis antigos, o que leva ao abandono e à deterioração.
Verde reconhece a presença do mercado imobiliário sobre áreas centrais e bairros nobres no Centro expandido como Cambuí, Nova Campinas e Taquaral, onde antigos casarões e terrenos amplos tornam-se alvos para novos empreendimentos. Explica que as construtoras e os empreendedores procuram espaços onde haja demanda por habitações e empreendimentos e buscam imóveis que possam ser comprados e locais onde possam construir novos edifícios. “O mercado imobiliário é como qualquer outro, busca locais para empreender onde haja retorno. O que falta é projeto e planejamento urbano para conciliar essa expansão com a preservação”, diz.
Verde não concorda com o uso do termo especulação para explicar o fenômeno de expansão imobiliária no centro. Já Fernando Shigueo Nakandakare, não nega, mas os desenvolve, para ele, a especulação, consiste em deixar imóveis desocupados aguardando valorização sem se preocupar com a depreciação da cidade de forma a impedir o local de cumprir sua função social.
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No entanto, afirma que é preciso deixar claro que a especulação e o mercado não são sinônimos. O primeiro pode ser utilizado pelo segundo como estratégia de depreciação para futura valorização, mas que ganha espaço na ausência de ações eficazes de reconhecimento de patrimônios em uma dinâmica sustentável na cidade.
“Quando tratamos edifícios apenas como mercadoria, deixamos à mercê do mercado que busca apenas lucro”, alerta.
A demolição e a requalificação
Um caso simbólico dessa disputa em Campinas foi a antiga fábrica de chapéus, próxima ao Mercado Municipal. O local, segundo Nakandakare, tinha potencial para se tornar um centro cultural ou espaço multiuso, mas acabou sendo vendido para uma construtora que vai preservar apenas a fachada e erguer uma torre habitacional.
“Poderíamos ter tido algo como o Sesc Pompeia em São Paulo, mas não foi o caso”, lamenta.
Verde, por sua vez, cita experiências onde a pressão imobiliária resultou em requalificação, como no antigo sanatório Santa Isabel, hoje transformado no complexo Pátio Abolição. Ele defende a verticalização das áreas centrais como caminho para evitar o espraiamento urbano e promover o adensamento populacional com acesso à infraestrutura.
“Os novos empreendimentos podem ajudar a requalificar o patrimônio, ocupando imóveis abandonados e estimulando comércio e serviços no entorno”, afirma.
Outro exemplo de requalificação de patrimônio histórico citado por Verde é o edifício onde atualmente funciona a ESAMC que era um edifício fundado em 1909 como um colégio apenas para mulheres que teve a fachada mantida, mas “praticamente quase todo demolido na sua parte interna e parte traseira. Foi feito outro empreendimento com o hotel, salas comerciais e o espaço da universidade”.
“Claro, não há mais espaço para ter aquela escola feminina, a escola de freiras naquele lugar, mas há espaço para ter uma universidade funcionando lá com diversos cursos. Então, a cidade vai se reinventando. Há necessidade da cidade se reinventar”, diz.
Plano de gestão deficiente
Ambos os arquitetos concordam que Campinas sofre com a ausência de um plano de gestão do patrimônio que articule de forma eficiente o poder público, sociedade civil e mercado. Enquanto Verde critica a falta de um planejamento urbano consistente, Nakandakare defende a criação de um corpo técnico capacitado para construir soluções que não repitam o ciclo de abandono e descaracterização.
“Hoje, para muitos, patrimônio é sinônimo de prédio abandonado. Proteger é ocupar, dar função, memória. Não demolir não é preservar”, fala Nakandakare.
O arquiteto defende que o poder público precisa de instrumentos mais eficazes para gerir o patrimônio, integrando-o de forma sustentável à dinâmica social e econômica. “Proteger sem qualificar é adiar: se o mercado não demolir, o tempo o faz”, diz.
Em complemento, João Verde conta que em Campinas existe uma lei de tombamento, mas não de preservação. “Tombar não significa preservar e a preservação é muito cara”.
Ele explica que os mecanismos existentes na metrópole não são suficientes. Há, por exemplo, a isenção de IPTU para imóveis tombados, mas ela só se aplica se o proprietário está realizando um restauro ou reforma no local naquele ano. “Eu acho que é necessário que as pessoas tenham isenção de IPTU nesses imóveis tombados se o imóvel estiver sendo bem mantido, não adianta dar isenção para o imóvel que tá largado e abandonado”.
Outra ferramenta que considera importante é a Lei do Potencial Construtivo, ela só se aplica a imóveis tombados e tem potencial para trazer benefícios a médio e longo prazo. O arquiteto explica que ela abre a possibilidade do proprietário de um imóvel tombado vender o “potencial construtivo” a uma incorporadora que, ao comprar, “ganha” a capacidade de construir mais do que a metragem originalmente permitida no terreno.
Nakandakare explica que o valor do imóvel está conectado ao potencial construtivo que se estabelece para determinadas regiões junto ao plano diretor. Quanto maior o potencial construtivo de uma região com infraestrutura e boa localização, maior será a pressão sob os patrimônios existentes nessa localidade.
Desta forma, o dinheiro obtido com a venda só pode ser utilizado para a manutenção do imóvel que teve o potencial comercializado. E assim, Verde comenta que muitos imóveis abandonados passaram a ganhar projetos de restauro e requalificação. “O dinheiro tá vindo do que vocês chamam de especulação imobiliária. Eles, claro, tão ganhando quando vão pegar essas áreas construídas e aumentar seus prédios, sim, mas isso está gerando dinheiro, está movimentando o mercado. Inclusive criando o mercado para profissionais restauradores, especialistas em pintura, especialistas em taipa, em trabalhar com técnicas construtivas antigas”.
Ainda assim, aponta um problema na legislação, ao só pode ser vendido uma vez a ação de manutenção e restauro que é constante acaba ficando deficitária com o tempo. Assim, sugere que “a cada 10 anos ou 12 anos as pessoas possam vender esse potencial novamente”.
Incômodo e a perda da memória
A situação dos patrimônios e da própria cidade é um incômodo para os moradores de Campinas apesar de entenderem que invariavelmente o tempo vai promover mudanças na paisagem urbana. Cláudia, arquiteta e proprietária de uma barraquinha na Feira Hippie há 35 anos, fala sobre o apagamento da memória que a cidade vem sofrendo, este provocado pelo
abandono e a substituição de casas históricas por enormes edifícios.
Além disso, ressalta que o bairro do Cambuí deve ser preservado antes que seja completamente descaracterizado. “Tem uma casa de esquina aqui embaixo, tombada, mas tá ruindo. Então, eu acho que Campinas está esquecendo da memória.”, se referindo a uma casa tombada pelo Conselho de Patrimônio de Campinas na rua Antônio Cesarino que é de taipa e foi construída no fim do século XIX, mas que não recebe manutenção e precisa de restauro.
Já Júlio César, que mora na região dos estádios, direciona as críticas à gestão municipal atual. Ele considera que a prefeitura não promove investimentos suficientes para a cultura, sendo a preservação do patrimônio um dos elementos. “Eu acho que ainda é uma cidade muito carente pelo tamanho que tem, pelo tamanho da população, eu acho que ainda é uma cidade muito carente de atividades de cultura. A parte histórica é muito mal preservada, mal explorada. E também tem a questão dos prédios tombados que não deveriam ser derrubados. Eu acho que tem outras regiões da cidade que podem ser melhor aproveitados para erguer prédios e construir novos bairros”.
Maurício, dono de uma barraquinha de discos na Feira Hippie e morador do Cambuí desde o nascimento, também é bastante crítico à prefeitura. Ele afirma uma falta de fiscalização e um Plano Diretor coerente com a cidade, pois vê no bairro cada vez mais edifícios sendo construídos no lugar de antigas casas e “sufocando” o espaço.
“No Cambuí você vê que cada vez você está ficando mais apertado. Porque você tem o seu prédio, aí do lado lado tem outro prédio, atrás tem outro prédio (…) tinha casas bacanas, sendo demolidas e construindo o prédio. Eu sou contra, tá?” E lembra de casos como um antigo palacete localizado na Avenida Júlio de Mesquita que em apenas um fim de semana foi destruído e o terreno limpo para logo depois ter um edifício de hotel no local.
“Você passou que domingo à tarde, 6h da tarde, tava demolido um lugar histórico para construir um um flat ali, eu acho que um hotel. Eu acho que isso foi escandaloso”.
Situação que Jucinaide ressalta, ela diz acompanhar a demolição de muitos prédios em Campinas e não concorda com a destruição que vem ocorrendo. Para ela, isso descaracteriza a cidade e faz com que perca a identidade. Ela acredita que é um papel da prefeitura assumir a responsabilidade para evitar que isso ocorra.
E ressalta que muitas construções de Campinas nem precisam ser efetivamente demolidas, são apenas abandonadas e a falta de manutenção provoca a deterioração. “Não precisa nem demolir, porque ele vai destruindo com o próprio tempo mesmo”. “As pessoas vão para fora ver os prédios antigos, históricos, né? Sendo que aqui eles não mantêm, né? Então eu acho uma judiação isso. Eu acho que teria que preservar sim. Porque assim como o pessoal vai para fora para conhecer os prédios históricos e tudo, por que não preservar aqui também?”.
O que diz a prefeitura?
A Prefeitura de Campinas foi questionada sobre o assunto, mas não enviou resposta até
o fechamento da reportagem.
- Spotlight é um coletivo de jornalismo universitário formado por estudantes de diferentes semestres do curso de Jornalismo da Escola Superior de Administração, Marketing e Comunicação (ESAMC), em Campinas.
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